Músicas para Acompanhar a Visita

Tom Zé (Classe Operária)






Adriana Maciel (Zé Miguel Wisnik) (Laser)





Que Venha a Vida

Por caminhos incertos
Entre rumos distintos
Não!não desejo tolos méritos
Apenas vagar em labirintos.

Procuro a vida que me existe
Nem feliz e nem muito triste
Vivo, por assim dizer
Sem obrigação com o dever.

Mas quando a tristeza
Quer me tomar a alma
Mostro-lhe minha calma
Fugindo dela com destreza.

Também fujo da felicidade
Pois esta somente me procura
Pra embriagar-me na doçura
De sua falsa eternidade.

De ambas eu hei de escapar
Deixo-as... sem nelas acreditar
E a elas não mais me darei
Porque em mim não estarei.

E que venha a vida!
De guerra ou de paz
Feliz ou sofrida...
Para mim... tanto faz.

Sandro Sasner

Urbacidade

Muros, grades, penitenciarias, construções
Arquitetos, simetria dimensões
Parque industrial, floresta desmatada
Correria, dia-a-dia, vida agitada
Concreto, martelo, prédio inacabado
Medida exata: homem limitado.

Helicóptero, britadeira, buzina, multidão
Passeata, greve, ano de eleição
Carro, escapamento, derrapada, acidente
Bate-boca, gritaria estridente
Lixo, plástico, produto dietético
Tempo escasso: homem sintético

Praça, sorveteiro, pastor exaltado
Terno, limousine, criança do trocado
Cigarro, neblina, esgoto, poluição
Tosse, ar pesado, câncer de pulmão
Sonho, prestações, consumo, venda a prazo
Desejo ambicioso: homem escravo.

Trabalha, dorme, acorda, trabalha
Insônia, susto, pedra na calha
Cansaço, esposa, garota da televisão
Desprezo, espancamento, traição
Obedece, acredita, acata
Conformismo símio: homem primata.

Criança, abandono, tristeza, solidão
Drogas, crimes, suicídio, prostituição
Psicose, cinema, AK-47
Fúria, revolta, mais-um-pivete
Fuga, correria, tiroteio, policial ferido
Vida bandida: homem desiludido.

Assalto, revólver, moleque, touca
Nervosismo,tiro-a-queima-roupa
Ambulância, sangue, desespero, hospital
Estatística, número, vitima fatal
Comum, banal, normal, cotidiano
Marasmo vicioso: homem mediano.

Vejo, penso, choro, depressão
Psicólogos, tolices, sem-solução
Tento, ouso, luto, desisto
Sub-nutrido, sobrevivo, sub-existo
Descrente, aflito, angustiado
Opaca estranhez: homem desencantado.

Kafka, previsão, gênio, dilema
Urbacidade, absurdo, problema
Sem-saída, semi-vida, sem-retrocesso
Livro, relato, o processo
Romance, obra-prima, colossal
Escritor visionário: Homem genial.

Sandro Sasner

Metal (Ariadne Lima)

Entre cartas e cartéis,
Entre bordados e bordéis,
Entre anjos e desbandos,
Entre mandos e demandos.
Eu.

Eu e minha singularidade tola,
A impecabilidade negra,
Que me espreme,
Não me exprime,
Comporta e comprime
Tudo o que eu queria desatar.

Entre sarcófagos e cacófatos,
Entre presídios e dissídios,
Entre a derme e a epiderme,
Entre maurícios e guilhermes
Eu.

Quero um coração de metal!
Corpo, alma e coração de metal.
Presos à imobilidade
E fortes diante da descrença,
Do terror, da indiferença
Da tolice, da revolta.
Firmes diante do amor sem volta.

Entre o desprezo,
O metal.
Entre o egoísmo,
O metal.
A minha frente,
O metal.

Refúgio,
Escudo,
Proteção contra meu excesso de amor.


Ariadene Lima.

Teleguiado

Neste embuste programado
Propagado pela propaganda
Em redundância a fixar
O produto que comprar

Tu, ó fiel e casto consumidor
Mero obstinado observador
De alva beatitude nos deveres
Com tola sujeição no tudo teres

Como única opção
Tens a escolha do cartão
Pagando sua irrelevância
Obediente e a distância

Primata no agir
(gestos simios na escuridão)
Comedido no existir
(sem alguma real percepção)

Abastecido de pequena vida
Mas pelo excesso engordado
Passarás vão de alma comprimida
No seu anuir constante impensado
Como cordeiro direcionado

Germe da desigualdade
Sem ver-te culpabilidade
Entrevastes tua visão
Inapta às lambadas que te dão.

Será medo de nula exibição?
Ou inabilidade de autogestão?
Que os vermes enojem-se
E, o ciclo quebrando,
Ao pó retorno negando,
De ti vinguem-se...

Mestre

"Que diabo de país é esse, que tem um artista como esse(Tom Zé) e ninguém conhece?" DAVID BYRNE (Talking Heads)



Inverno

Não sinto desencanto
Tampouco Felicidade
Secaram-me os prantos
E sorrisos de tenra idade.

È apenas um... permanecer
Sabe? Constante e sem motivos
Vendo cada dia perecer
Com gestos já inativos...

Será medo? Desmotivação?
...Como explicar o inexplicável?
Paro e olho, não é contemplação
É aceitar o inalcançável...

Sem desespero, não há por que,
Caminho novamente, passos leves
Ao longe um lago frio me vê
Punindo minha condição reles...

Afoga-te! Traduz o vento
Na beira estagno novamente
A alma foge do momento
Sou eu, frio, e minha mente...

Na gélida água, piso descalço
È o certo, confirmo ao corpo
Olho para traz, soa-me tudo falso
A água sobe pouco a pouco...

Surge-me uma centelha de vida
Opondo-se ao gesto desesperado
Deixo que a mente reflita...
Desisto, mas sinto estar errado.

Quando me virá a coragem
ou será apenas covardia?
Ir ao lago parece bobagem
Mas vou lá todo santo dia...

Sandro Sasner

Microsoft

Trecho do filme Surplus



Mac Música Feliz!

Não chegará ao prato do descalço
A refeição vendida pelo palhaço
Já temos o circo e também o pão
Engordurados em cada opção

Nhac Nhac Nhac Hummmm!
Nhac Nhac Nhac Hahhhhhh!
Eu não canso de me empanturrar

Se os pecados capitais dão lucro
E dinheiro é só o que eu busco
Porque pedir controle emocional?
É,de costas, pedir à Brutus o punhal

Nhac Nhac Nhac Hummmm!
Nhac Nhac Nhac Hahhhhhh!
Eu não canso de me empanturrar

De seu sorriso “palhaçal” singelo
(É o que a maquiagem me diz)
Com a boca cheia eu pondero:
Esse lanche que é feliz!

Nhac Nhac Nhac Hummmm!
Nhac Nhac Nhac Hahhhhhh!
Eu não canso de me empanturrar

Coleciono as lembrancinhas
Que do nobre lanche ganho
Até noto algumas gordurinhas
Mas feliz! nem reclamo

Nhac Nhac Nhac Hummmm!
Nhac Nhac Nhac Hahhhhhh!
Eu não canso de me empanturrar

Desativo espectador desta glória
Crio objeção pensada e veemente
Contra os barbudos que lá fora
De vermelho, me odeiam incortezmente

Nhac Nhac Nhac Hummmm!
Nhac Nhac Nhac Hahhhhhh!
Eu não canso de me empanturrar

De coração puro e entupido
Dou glórias por haver nascido
Em época tão linda e circense
Onde até a felicidade se vende

Sandro Sasner

"My Cherry"



Com um belo "choque" de fortes cores, a amiga "Mussezinha" cria uma gravura que agrada aos nossos olhos - já acostumados com o "cotidiano visual" pardo (sem expressão e mudo) - deixando-nos com uma agradável sensação do aqui bem pensado contraste.

Viva a Loucura

Dê um viva à loucura,
Esta insana doçura;
Tolo quem não a procura,
Não sente a vida pura.

Louco ouse ser,
O que há a perder?
A tua vida segura?
Que nem você a atura.

Eu canto, danço, pulo...
Fujo de qualquer casulo
Sem me ater à norma,
Dou à vida minha forma.

Que bela aventura,
Terá quem a procura.
Excluo-me do sério,
Antes do cemitério.

Fuja da certeza;
Sê incoerente,
Erre com destreza
Torne-se inconsistente.

Rume a novidade,
Viva na calamidade,
Se nítida é a visão:
Cerre os olhos então.

Como me faz bem
Viver no desdém.
E assim eu vou andando
Com nada me importando.

Apenas faça por fazer;
Não há nada a perder,
Pois, se tudo é em vão:
Endoidar é a solução.

Sandro Sasner

Crescer

De flerte com a insanidade
Fiz disso alguns versos próprios
(Ao caso e não meus)
Abduzido por lembranças de mim
Pensei-me criança a brincar
Pés descalços e remelento...
(Eis minha fase sã e pura)
Hoje, me debatendo em ilusões
Busco o alcançável...fácil demais...
Ás vezes a graça está em se fuder
Levar um soco na cara
É um bom motivo para acordar cedo...
Como, em pirralho, eu sonhava voar!
E, neste devaneio, voava...
Do alto, baixava as calças e mijava em todos
Minha mãe, ao me ver olhando longe
“Esse moleque vai dar trabalho” dizia.
Mas o tempo, filho da puta, passa
Cresci e, no calar constante das obrigações
Tornei-me sério e sereno
Obcecado pelo palpável
Mero tolo “acatador” de normas
Posso me dizer sério...
Armado de cic, rg e carteira do trabalho
Tornei-me adulto.

Sandro Sasner

Ilha das Flores

Esse vídeo mostra a Diferença Social gritante e encoberta em nosso país:



Dom Artístico

O que fazer para fugir
Desta dor a me afligir?
De que forma deveria agir
Pra tal sentimento excluir?

A dor surge da minha lucidez
De ver no mundo toda estranheza
Perceber toda minha inutilidade
Notar que viver é uma futilidade.

O suicídio, então, torna-se doce como mel
Covarde, executo-o apenas no papel
Minhas palavras são como últimos suspiros
Porém, depois renasço para novos delírios.

Eis o grande momento do artista
Fingir que morre por ser realista
Depois em si mesmo ele retorna a vida
Como se não possuísse nenhuma ferida.

Esta é então a minha mágica
Para suportar a vida trágica
Então é com sangue que escrevo
Eu relato as dores que percebo
Talvez isto me faça morrer
Não importa...hei de renascer.

Sandro Sasner